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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Casas ecoloógicas... e blindadas


Rio de Janeiro, 05/05/2009 – As casas econômicas que se planeja construir em bairros populares do Rio de Janeiro com um material isolante térmico e acústico, dentro de um plano nacional para superar o déficit habitacional, levantou uma polêmica inesperada. O motivo é que também seriam à prova de balas. A tecnologia alemã, que a empresa britânica Ultra Green tenta vender ao governo federal, utiliza blocos fabricados com base em uma fórmula – que não divulga – de “telgopor grafitado” (material plástico espumado e reforçado), com uma cavidade entrelaçada através de suportes de ferro galvanizado.
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O material utilizado e a espessura dos blocos de 15 centímetros, ou mais, faz com que as paredes sejam muito resistentes, ao contrário das precárias moradias das favelas, a ponto de poderem suportar o impacto de balas, inclusive de grosso calibre. A fórmula parece simples, explicou à IPS o presidente da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, Ícaro Moreno. Basta encaixar os blocos, como o brinquedo infantil Lego, encher a cavidade interna com cimento e depois usar um revestimento normal coberto com uma malha natural. O método teria várias vantagens econômicas e ecológicas, segundo tenta comprovar o governo com uma primeira experiência na favela de Manguinhos, um dos bairros mais violentos do Rio de Janeiro.

Uma casa popular poderia ser construída em apenas 14 horas, envolvendo a comunidade, incluindo mulheres e idosos, porque os blocos são leves e fáceis de encaixar, com um treinamento de apenas três horas. E a tecnologia permitiria economizar até 30% em relação ao custo de uma construção tradicional. No caso de dar tudo certo, o governo do Rio de Janeiro não duvidaria em aplicar a tecnologia porque “pelo mesmo preço seria possível construir mais 300 casas”, disse Moreno.

O plano habitacional do Rio de Janeiro faz parte de um programa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamado “Minha casa”, que pretende construir um milhão de moradias populares até 2010 em todo o País. Segundo as estimativas mais conservadoras, que são as oficiais, o Brasil tem déficit de oito milhões de moradias.

O presidente da Ultra Green Brasil, Pedro Moreira Leite, assegura que a tecnologia é, sobretudo, “ecologicamente correta”, após afirmar que pode ser aplicada para construção “desde uma casinha de cachorro até um palácio”, como um que já foi levantado em Dubai. A empresa alemã já planeja instalar três fábricas no país. São “casas verdes’, porque, segundo explicou à IPS, usa-se materiais como cimento reciclado, ou seja, misturado com entulhos de obra.

Também estariam dentro desse conceito por não causarem justamente muito entulho. Enquanto no Brasil, por exemplo, se desperdiça de 15% a 20% de material de construção, Leite assegura que o “super telgopor” gera apenas 2% de entulho. E acrescenta que a tecnologia não requer a utilização de veículos pesados como guindastes. Mas, a principal vantagem ecológica, segundo o empresário, se baseia na capacidade de isolamento acústico e climático de suas paredes. Com temperaturas altas como as do Brasil se economizaria 30% de energia elétrica, porque o material isolante mantém a refrigeração inicial por quatro ou cinco horas.

Porém, a abundância de informação ecologicamente corretas, nesse caso, fez com se perdesse nas paginas da imprensa outro assunto que causou preocupação, de que as casas também seriam à prova de balas, suportando até mesmo projeteis de fuzil. Os moradores das favelas costumam ficar no meio do fogo cruzado pelos confrontos entre bandos de traficantes ou deles com a polícia. Dados oficiais, que as organizações de direitos humanos consideram subestimados, informam que apenas entre janeiro e abril morreram 75 civis devido ao enfrentamento entre traficantes e em operações policiais contra essas verdadeiras máfias.

Por isso a informação sobre as casas populares “à prova de balas” chegou em um mal momento para o governo do Presidente Lula. Mais ainda quando tenta com planos, como “Minha casa”, além de reativar a economia e criar empregos com investimento em obras públicas, promover “a segurança e a pacificação através da cidadania”, com diz outro programa do governo federal, o Programa Nacional de Segurança com Cidadania. Em síntese, a proposta é combater este grave problema não com balas, mas com obras sociais. “Nem entramos nesse tipo de análise porque no Brasil não precisamos de casas blindadas”, rebateu Moreno, que assegura que na escolha dessa tecnologia prevalecerão questões de rapidez da obra, custo e qualidade.

Moreno atribui o vazamento dessa informação a “uma tática de marketing” do fabricante. Embora admita que uma parede com 15 centímetros de espessura e com os materiais que utilizados pela tecnologia “é resistente”. Depois da polêmica, o presidente da Ultra Green também prefere atribuir a suposta capacidade antibélica da tecnologia alemã a declaraçoes de um especialista da policia do Rio de Janeiro. Porém, destaca que “qualquer casa de concreto armado com essa espessura é automaticamente à prova de balas, e não especificamente as nossas, com nossa tecnologia”.

A empresa britânica, que também busca expandir seus investimentos em outros países da América Latina, tem um olho em “outro mercado não tradicional de construção. Por exemplo, o de prisões, pela capacidade de isolamento térmico do material”. Nos “presídios brasileiros, um dos graves problemas é o calor devido às condições quase desumanas e à quantidade de presos nas celas. Nossa tecnologia permite um ambiente mais humano, pelo isolamento térmico”. A fortaleza do material também teria uma vantagem adicional, para esses casos, segundo Moreira Leite: “evitar fugas”. Mas isso será parte de outra polêmica. IPS/Envolverde

(Envolverde/Por Fabiana Frayssinet, da IPS)

Postado por: Profª. Rosângela Viana.

Um comentário:

Delamare MC Filho disse...

Nossa, que tema importante que vocês postaram! "Casa blindada" utilizando tecnologia alemã no Rio de Janeiro? Todos precisam ver isso. Interessante, gostei!

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